PRÉ-HISTÓRIA - Homo Neanderthalensis


E se os neandertais nunca tivessem entrado em extinção? - Mega Curioso
                                                                                                     
                                                                                                         Homo Neanderthalensis

O homem de Neandertal (Homo neanderthalensis na nomenclatura binomial)
é uma espécie ancestral humana extinta com o qual o homem moderno conviveu.
Surgiram há cerca de quatrocentos mil anos na Europa e no Médio Oriente
e, na Península Ibérica, extinguiram-se há vinte e oito mil anos.

Compartilha com os humanos atuais em 99,7 % do seu DNA.
Revela no entanto diferenças morfológicas significativas.
Prevalece como fóssil do género Homo enquanto habitante remoto da Europa
e de territórios da Ásia ocidental desde há cerca de trezentos e cinquenta mil até há vinte e nove mil
anos aproximadamente (Paleolítico Médio e Paleolítico Inferior, no Pleistoceno).

O sequenciamento de DNA nuclear neandertal realizado desde 2006 e publicado a partir de 2010
mostrou um antigo “fluxo gênico” entre os homens neandertais e os homens modernos da Eurásia.
Os humanos não africanos atuais têm entre 1,8 e 2,6% dos genes neandertais,
adquiridos por hibridação há cerca de 50 mil anos atrás, logo após sua saída da África,
e mais de 30% do genoma neandertal sobrevive
em toda a população atual em diferentes locais do nosso genoma.

Certos genes neandertais foram corrigidos em humanos modernos
devido à sua natureza adaptativa.

A cultura material do homem de Neandertal,
chamada cultura musteriense, era sofisticada em vários aspectos.
Além de ferramentas, também usavam o fogo, eram bons caçadores e já cuidariam dos doentes.

Há inclusivamente quem nele reconheça capacidades estéticas
e espirituais semelhantes às do homem atual, como as reveladas nas suas sepulturas,
malgrado ser visto no imaginário popular como um ser grosseiro e pouco inteligente.
Era de maior robustez física que o homem atual e tinha um cérebro ligeiramente mais volumoso.

O cérebro do Homo sapiens sapiens tem um tamanho médio de 1 400 cm³,
enquanto o dos neandertais chegava a ter cerca de 1 600 cm³.

Progressos relativos da arqueologia pré-histórica e da paleoantropologia,
posteriores à década de 1960, descrevem-no como um ser de considerável cultura,
eventualmente sobrestimada por alguns autores.
Muitas questões carecem de uma resposta conclusiva,
sobretudo as relacionadas com a sua extinção.

Os primeiros achados de restos do homem de Neanderthal ocorreram nas grutas de Engis,
na atual Bélgica (1829), e depois na pedreira de Forbes, em Gibraltar (1848),
ambos anteriores à descoberta do espécime tipo, em uma mina de calcário situada no Neanderthal
(em português, 'vale de Neander'), que fica entre as cidades de Erkrath e Mettmann,
nas proximidades de Düsseldorf e Wuppertal, na Alemanha.
A descoberta do espécime de Neanderthal ocorreu em agosto de 1856.

O fóssil de Forbes foi descoberto na pequena gruta de uma pedreira.
Esta descoberta é hoje considerada como o marco fundador da paleoantropologia.
Pouco tempo depois, foram aí encontrados vestígios antropológicos de cerca de 500 indivíduos,
sobretudo ossos, alguns dos quais bastante incompletos.

O espécime de Forbes, classificado como Neandertal 1, era constituído por uma calota craniana,
dois fémures, três ossos do braço direito, dois do esquerdo,
parte do ilíaco esquerdo e fragmentos de uma omoplata e costelas.

O achado foi atribuído pelos operários da pedreira a despojos de ursos e entregue um naturalista.
Impressionado pelo crânio baixo e espesso, pelas arcadas supraciliares proeminentes,
membros arqueados e curtos, ele deduziu que deveriam ter pertencido
a um ser humano muito primitivo.

Levou os fósseis um anatomista e, em 1857, a descoberta foi anunciada por ambos.
Em 1858, foi descrito como tendo pertencido "às raças humanas mais antigas",
que datou em cerca de alguns milénios antes, o que daria origem a intensa polémica,
já que a Teoria da Evolução ainda estava longe de ser aceite nos meios académicos.

A expressão "homem de Neandertal" foi cunhada em 1863.
Durante vários anos de intenso debate científico quanto à denominação mais adequada,
Homo neanderthalensis ou Homo sapiens neanderthalensis,
a segunda designação implicava ter de se considerar o homem de Neandertal
como uma subespécie do Homo sapiens, o Homo sapiens sapiens,
ambos pertencendo à linhagem humana.

Estudos ulteriores sobre o DNA mitocondrial
levariam entretanto a supor que tanto os neandertais como o Homo sapiens
evoluiram de um ancestral comum.
A separação teria ocorrido mais de um milhão de anos atrás.

Comparação dos crânios do Homo sapiens (esquerda) e do Homo neanderthalensis (direita).
Com base em antigos genomas, os pesquisadores concluíram que os Denisovans, os Neandertais
e os seres humanos modernos se misturaram na era glacial da Europa e da Ásia.
Os genes de ambas as espécies humanas arcaicas estão presentes em muitas pessoas hoje em dia.

Poucos dizem que dúvidas existem quanto à forma como decorreu a coexistência dos Homo sapiens
com os homens de Neandertal em locais como no sul da Península Ibérica ou na Dalmácia.
Há quem defenda que a baixa densidade populacional da época permitiu que os dois
não tenham estabelecido contacto, existindo uma segregação a nível social
que considerasse "tabu" qualquer aproximação e, claro, hibridização.

Outros autores, baseando-se, por exemplo, na descoberta de um fóssil de um menino de quatro anos
conhecido como o "Menino de Lapedo", em Vale do Lapedo, Portugal, crêem que está provada
a ligação e cruzamento do homem moderno com o "Homo sapiens neanderthalensis".

Estudos publicados em março de 2016 indicam que o Homem Moderno se cruzou de fato
com hominídeos, incluindo o Homem de Neandertal, em várias ocasiões.
Antes disto ser divulgado, certos autores preferiam uma abordagem de meio termo,
crendo que poderão ter existido contatos pouco relevantes a nível cultural e mesmo genético,
já que podiam, até, considerar-se como espécies assumidamente diferentes.

Esta discussão, complexa, tem gerado alguma polémica entre os autores
que preferem uma abordagem genética e paleoantropológica
e aqueles que dão maior importância ao contexto cultural da evolução humana.

Teorias como a conhecida "Out of Africa (ou hipótese da origem única),
"ao propor que o homem moderno teve origem em África e se disseminou por todo o planeta
num processo de "colonização" de cerca de oitenta mil anos,
não admite a miscigenação entre os dois grupos.

Outras teses, contudo, de carácter "regionalista", defendem que vários tipos humanos
evoluíram simultânea e gradualmente, estabelecendo contatos que permitiram a emergência
do Homem moderno, esses teóricos são, portanto, mais favoráveis à hipótese
do cruzamento entre aqueles dois tipos humanos.

De fato, certos estudos pareciam demonstrar que pouco ou nada subsistiria
do património genético dos neandertais no DNA do homem atual.
Em 7 de Maio de 2010 um estudo do Projeto do Genoma do Neandertal
foi publicado na revista Science.

Tal estudo afirma que realmente ocorrera cruzamento entre as duas espécies.
Outro estudo, de 2016, utilizando registos médicos eletrónicos e dados de DNA associados,
de mais de 28 000 indivíduos, mostra que, coincidindo com os resultados
divulgados em março deste mesmo ano, acima referidos, o DNA Neanderthal
produziu efeitos significativos no sistema imunitário do Homem Moderno, protegendo-o dos riscos
de desenvolvimento da depressão, de lesões de pele e de coagulação sanguínea excessiva.

Em 2018, um pedaço de um osso de uma adolescente que morreu há mais de cinquenta mil anos,
desenterrado em uma caverna no vale de Denisova, na Rússia,
em 2012, indica que sua mãe era neandertal e seu pai era Denisovano.

A extinção do homem de Neandertal não está bem esclarecida.
Sobre esse tema existem várias hipóteses, baseadas no pressuposto da competição
com o Homo sapiens, mais eficaz na sobrevivência da espécie,
mostrando-se irrelevante a extinção por motivos climáticos.

Alguns autores consideram que o fato de a cultura material do homem de Neandertal
não ter evoluído durante cerca de duzentos mil anos se deve a uma inteligência prática de baixo teor,
apesar de ter um cérebro maior do que o do homem moderno,
embora pouco se saiba quanto à organização fisiológica e neurológica dos neandertais;

não obstante, estudos realizados em 2017 comprovaram que o homem de Neandertal
detinha bom conhecimento das plantas medicinais e as suas propriedades anti-inflamatórias
e analgésicas, fazendo ainda o uso de antibióticos
quarenta mil anos antes de ser descoberta a penicilina.

Outros estudiosos assinalam a baixa mobilidade das suas populações,
a reduzida área geográfica onde se estabeleceram, bem como a sua constituição óssea,
de secção circular, adaptada ao esforço mas pouco adequada a uma locomoção ágil,
vantagem esta do "Homo sapiens", que tem ossos de secção oval.

A inércia das populações neandertais seria causada pela falta de estímulos
de quem vive num nicho ecológico que apenas garantia as necessidades básicas de sobrevivência,
num meio ambiente sem grandes alterações climáticas.

Outros autores apontam a fraca variedade genética decorrente da consanguinidade,
devida a um crescente isolamento social e comunitário,
possivelmente motivado por contatos hostis com o homem moderno.

Outros autores ainda aventam a hipótese de o tempo de gestação ser maior no caso dos neandertais
(talvez 12 meses em vez de 9, como no caso do Homo sapiens),
o que explicaria uma maior dificuldade de se reproduzirem.
Por outo lado, o homem moderno teria um comportamento prospetivo mais vantajoso
na gestão dos recursos naturais, como a proto-agricultura.

A manutenção das populações cinegéticas e o consumo de vegetais
como complemento alimentar tornava-os menos dependentes da carne.
O homem de Neandertal seria um caçador puro que teria depredado os seus recursos,
o que teria contribuído para a sua extinção.

De acordo com estudo publicado em julho de 2012, a extinção dos neandertais
teria sido originada mais pela migração do Homo Sapiens do que por efeitos climáticos.
A prova disso fundamenta-se na descoberta de cinzas com vestígios de corpos de neandertais
vítimas de uma grande erupção vulcânica ocorrida há quarenta mil anos,
que atingiu todo o continente europeu.

Esses vestígios eram em quantidade inferior às de outras amostras,
evidenciando assim que a população começou a declinar antes da erupção.

Em 2019, um artigo publicado defende que Neandertais
podem ter sido aniquilados por infeções do ouvido.
Para os Neandertais, esta condição significava muitas complicações,
incluindo infeções respiratórias, perda de audição e pneumonia.

De nariz curto, mas largo e volumoso, os neandertais estavam adaptados ao clima frio.
Essas características, observadas nas modernas populações sub-árticas, resultam da seleção natural.
Os neandertais teriam habitado em áreas próximas do Ártico.
Seus cérebros eram aproximadamente 10% maiores em volume do que os dos humanos modernos.

Em média, os neandertais tinham cerca de 1,65 m de altura e eram muito musculosos.
Comparados com os humanos modernos, possuíam feições morfológicas distintas,
especialmente no crânio, que gradualmente acumulou aspectos específicos,
em particular devido ao seu relativo isolamento geográfico.

A sua estatura atarracada pode ter sido uma adaptação ao clima frio da Europa durante o Pleistoceno.
Nada se conhece sobre a forma dos olhos, orelhas e lábios dos neandertais.
Por analogia, teriam pele muito branca, para um melhor aproveitamento
do calor nessas frias latitudes da Europa.
Estudos recentes revelam que alguns indivíduos eram de pele branca e de cabelo ruivo.

Segue-se uma lista de traços físicos que distinguem os neandertais dos humanos modernos.
Nem todos esses traços servem para distinguir populações específicas de neandertais,
de diversas áreas geográficas ou de diversos períodos da evolução, de outros humanos extintos.
Por outro lado, muitos desses traços estão ocasionalmente presentes nos modernos humanos,
sobretudo em determinados grupos étnicos.

Crânio
Fossa suprainíaca (canal sobre a protuberância occipital externa do crânio)
Meio da face projetado para frente
Crânio alongado para trás
Toro supraorbital proeminente, formando um arco sobre as órbitas oculares
Capacidade encefálica entre 1 200 e 1 700 cm³ (levemente maior que a dos humanos modernos)
Ausência de queixo

Testa baixa, quase ausente
Espaço atrás dos molares
Abertura nasal ampla
Protuberâncias ósseas nos lados da abertura nasal
Forma diferente dos ossos do labirinto no ouvido
Pós-crânio

Consideravelmente mais musculoso
Dedos grandes e robustos
Caixa torácica volumosa e saliente
Forma diferente da pélvis
Patelas grandes
Clavícula alongada

Omoplatas curtos e arqueados
Ossos da coxa robustos e arqueados
Tíbias e fíbulas muito curtas
As mulheres seriam igualmente robustas ou, talvez, ainda mais.

A teoria de que os neandertais careciam de uma linguagem complexa prevaleceu até 1983,
quando um osso hióide foi descoberto na caverna de Kebara ena Palestina,
idêntico ao dos humanos modernos, que segura a raiz da língua no seu lugar e que faculta a fala,
mostrando que os neandertais tinham capacidade de se exprimir por essa via.

Mesmo sem tal evidência, é óbvio que ferramentas avançadas como as do período musteriense,
atribuídas aos neandertais, não poderiam ter sido desenvolvidas sem capacidades cognitivas,
incluindo algum tipo de linguagem falada.

Além disso, foram identificados genes extraídos de fósseis
que comprovariam que os neandertais falavam.
A única diferença seria que a língua do neandertal estava implantada mais acima na garganta,
deixando a boca mais cheia, fazendo com que a sua fala fosse lenta, compassada e nasalizada.

A estrutura social do homem de Neanderthal era semelhante
às sociedades modernas de caçadores-coletores de Homo sapiens.
Como em nossa espécie, mostraram-se unidos por laços afetivos
e possuiam habilidades como o altruísmo, já que cuidavam de indivíduos fracos ou doentes
que, de outra forma, não teriam sobrevivido.

No entanto, acredita-se que, com base no pequeno tamanho dos grupos e no estilo de vida nômade,
os neandertais sentiam pouca predileção por se confraternizarem com grupos externos,
concentrando as interações sociais em torno dos indivíduos do clã.
Foram encontrados até restos que apontam para uma divisão do trabalho
baseada no sexo do indivíduo.

A idéia tradicional postula que as crianças desta espécie
recebiam menos atenção dos adultos em comparação com os humanos modernos,
vendo a infância dos Neandertal como especialmente difícil e perigosa;

Vários fósseis de jovens mostram a existência de ossos com sinais de doenças
e feridas não curadas durante meses, até anos.
No entanto, um estudo conjunto de 2014 sugere
que os neandertais jovens tiveram uma maior integração dentro do grupo,
e por estes receberam maior proteção que a proposta anteriormente.

Esses indivíduos mostram maior simbolismo do que entre os adultos,
incluindo o maior grau de elaboração de suas sepulturas.
Dessa forma, a aparente falta de atenção na infância realmente mostraria
as conseqüências de viver em um ambiente hostil.

Prova de compaixão entre os membros do mesmo grupo é a descoberta na caverna de Shanidar,
no Curdistão, de um indivíduo que teria alcançado a velhice apesar da amputação do antebraço,
a presença de vários ferimentos na perna direita, cegueira de um olho e uma surdez congênita.
A sobrevivência desse indivíduo teria sido impossível sem o cuidado de outros neandertais,
já que suas várias feridas o tornaram uma presa fácil para os predadores.

Os assentamentos neandertais mostram uma estrutura complexa,
com locais destinados a usos muito específicos (locais comuns, áreas de dormir, etc.),
que foram estruturados em torno de uma fogueira.
Esta estrutura se deve ao fato de que esta espécie colocou o fogo como centro
de grande parte de suas atividades domésticas, desde a torrefação e cozimento de alimentos
até o uso de luz e calor gerados para moldar seus instrumentos.

Graças a essa informação, foi possível deduzir o número de membros que formaram os grupos.
O mais comum é encontrar pequenos grupos de entre 5 e 15 indivíduos
provavelmente relacionados uns aos outros (podendo chegar à consangüinidade às vezes)
que freqüentemente se movem pelo seu território.
No entanto, isso não exclui que em momentos específicos
(como tempos de maior abundância ou durante migrações de animais)
esses grupos pudessem se unir, formando comunidades maiores.

O local mais antigo do uso controlado e contínuo de fogo na Europa remonta
há trezentos e cinquenta mil anos, dos quais seu uso começa a se espalhar
por todo o continente até cerca de cem mil anos atrás,
onde já está presente em todos os locais habitados por neandertais.
Essa expansão do fogo parece coincidir com uma diversificação da dieta.

A maioria das evidências disponíveis sugere que eles eram superpredadores,
e se alimentavam de veados, renas, íbex, javalis, auroques
e, ocasionalmente, mamutes e rinocerontes.

Eles parecem ter ocasionalmente usado legumes como alimento,
revelado pela análise isotópica de seus dentes e estudo de seus coprólitos (fezes fossilizadas).
Além dos ancestrais do trigo e da cevada, sabe-se que o Homo neanderthalensis
consumia tâmaras, legumes e uma variedade de outras espécies vegetais desconhecidas.

Os sítios arqueológicos compostos por jazidas com ocupações
de homens de Neandertal do Paleolítico Médio,
altura em que os neandertais terão atingido o auge da sua existência,
mostram um conjunto de ferramentas menor e menos flexível
em comparação com os sítios do Paleolítico Superior,
ocupados pelos humanos modernos que mais tarde surgiram.

Esta cultura técnica, atribuída aos neandertais, designada como musteriense,
consistia na produção de ferramentas de pedra lascada pelo desbastamento
em leque de um bloco lítico inicial (ou núcleo):
lascas a partir das quais se encadeava a produção de instrumentos diversos,
como machados destinados a tarefas específicas, bifaces, raspadeiras, furadores e lanças.

Muitas dessas ferramentas eram bastante afiadas.
No Paleolítico Superior terão desenvolvido uma cultura material mais evoluída
na tecnologia de talhe da pedra, designada chatelperronense,
e caracterizada pelo desdobramento do núcleo lítico em peças menores e mais manuseáveis.

Um estudo mostra que os neandertais que vivem na Europa há cerca de cinquenta e cinco mil
a quarenta mil anos viajaram para longe de suas cavernas para coletar resina de pinheiros.
Eles então utilizaram esse adesivo para colar instrumentos de pedra
em alças feitas de madeira ou osso.

Antropólogos evolucionistas na Alemanha, em 2020,
confirmaram que os humanos modernos na Europa há pelo menos
quarenta e cinco mil anos atrás ensinaram os neandertais a fazer colares com dentes de urso.

Há ainda indícios de que os neandertais usavam chifres,
conchas e outros materiais ósseos para fazer ferramentas:
uma indústria primária que passou a incluir, mais tarde,
adornos de osso e pedra que alguns autores descrevem como imitação
das técnicas do Homo sapiens, enquanto que outros lhes atribuem autoria própria.

Mesmo usando armas, não as arremessavam.
Tinham lanças compridas de madeira com uma seta na ponta, mas não as lançavam.
As lanças fabricadas para serem arremessadas eram usadas pelo Homo sapiens.
De modo idêntico, os ritos funerários neandertais, embora implicassem enterrar os mortos,
eram menos elaborados que os dos modernos humanos.

Os neandertais também sabiam executar tarefas sofisticadas
como as tradicionalmente atribuídas aos humanos:
construir abrigos complexos, controlar o fogo, esfolar animais.
Particularmente intrigante é um fémur de urso descoberto em 1995, na Eslovênia,
junto de uma fogueira do período musteriense:
um tubo com quatro furos em escala diatónica, uma flauta.

No sítio croata de Krapina datado de cerca de cento e trinta mil anos atrás,
entre muitos itens, uma rocha calcária partida foi escavada entre 1899 e 1905.
A rocha foi analisada por especialistas que propuseram que ela foi coletada
não para processamento adicional pelos neandertais, mas sim por causa de seus atributos estéticos,
sugerindo que os neandertais eram capazes de incorporar objetos simbólicos em sua cultura.

Em 2015, foi publicado um artigo sobre um conjunto de garras de águia-rabalva
do mesmo sítio Neanderthal que incluia marcas de cortes feitos
para transformá-las em uma jóia, provavelmente, um colar.
Em outros locais, os pesquisadores descobriram que eles coletaram conchas
e usaram pigmentos em conchas.

O tamanho e a distribuição dos sítios de Neandertais, juntamente com a evidência genética,
sugerem que os neandertais viviam em grupos muito menores e mais dispersos
do que os do Homo sapiens anatomicamente moderno.
Os ossos de doze neandertais foram descobertos na caverna El Sidrón, no noroeste da Espanha.

Acredita-se que eles tenham sido um grupo morto e massacrado há cerca de cinquenta mil mil anos.
A análise do DNA mitocondrial mostrou que os três homens adultos pertenciam
à mesma linhagem materna, enquanto as três mulheres adultas
pertenciam a diferentes linhagens maternas.

Isto sugere uma estrutura social patrifocal onde os homens permaneciam no mesmo grupo social
e as mulheres saiam do grupo em que nasciam.

Autores mais radicais, cujas teorias têm sido consideradas fantasiosas
por uma boa parte da comunidade científica, defendem que os neandertais eram detentores
de uma cultura tão complexa quanto outras mais modernas
e que terão mesmo sido fundadores de arquétipos universais assimilados pelo homo sapiens.

Segundo alguns teóricos, a mulher tinha um papel fundamental e mesmo superior ao do homem.
Na cultura neandertal, o sangue menstrual detinha importante valor ritual.
Preconceitos culturais modernos fizeram da menstruação um tabu, considerando-o como impuro.

Relaciona-se o período menstrual de 28 dias com o ciclo lunar,
que teria dado origem a um calendário, utilizado pelos neandertais, de 13 meses de 28 dias.
Isso teria dado origem em certas culturas modernas às superstições relativas ao número 13,
número de azar (ou de sorte), bem como à simbologia lunar presente na suástica:
o desenho de uma aranha sobre uma lua cheia, em alusão ao ciclo astral da lua,
em espiral como uma teia.

Associa-se também certos elementos da cultura neandertal aos arquétipos do labirinto
e do Minotauro enquanto constituintes de mitos lunares,
bem como a símbolos relacionados com cornos, com a Lua cornuda enquanto "Deusa-mãe".

Considera que a cultura neandertal seria essencialmente de carácter mágico
(ignorando essa função na mitologia tradicional africana),
devido ao tamanho do cerebelo destes humanos, que se poderia atribuir à projeção do osso occipital.

Da mesma forma, infere que os neandertais tinham hábitos nocturnos,
dando relevo à sua alegada cultura lunar e feminina
(em oposição à cultura solar e masculina do homem moderno)
realçando a forma arqueada das suas órbitas oculares (lembrando cornos),
que diz ser típica dos animais noturnos.

Chega-se ao ponto de admitir que os modernos canhotos existem porque os neandertais a
ssim eram predominantemente, ao contrário de indícios científicos recentes
que parecem comprovar o contrário.
Especula-se ao ponto de, na área da criptozoologia, a
ludir às narrativas medievias sobre "homens selvagens" ou "Wild men" como uma explicação
do fato de os neandertais terem sido extintos bem mais tarde do que se crê.

Uma equipe de cientistas concluiu, num artigo publicado,
que os neandertais não só comiam vegetais cozinhados
mas que também conheciam o valor nutricional e medicinal de alguns deles.

Combinando técnicas avançadas de análise química com a análise morfológica
dos microfósseis vegetais, esses investigadores conseguiram identificar grânulos de amido,
hidratos de carbono, vestígios de nozes, de ervas e até de verduras
na placa dentária de alguns exemplares.

Duas das plantas identificadas nos dentes de um dos indivíduos
não tinham qualquer valor nutricional e revelaram um desagradável sabor amargo,
o que leva a supor que existe grande probabilidade
de tais plantas terem sido usadas para fins medicinais.

A reprodução entre membros da mesma família foi um dos fatores que levou à extinção.
Num estudo publicado em Fevereiro de 2019, paleontólogos, geneticistas e arqueólogos
usaram os restos fósseis encontrados na gruta de El Sidrón, nas Astúrias,
para estudar 13 indivíduos que viveram há 49 mil anos.

Estes antepassados humanos desapareceram devido a "uma combinação de fatores ecológicos
e demográficos, que incluiu a interação com seres humanos modernos".
Viviam em grupos pequenos e praticamente isolados uns dos outros,
o que levou à endogamia entre estes grupos e, finalmente,
a uma grande diminuição da variabilidade biológica.

Nos cerca de 2 500 vestígios fósseis que estudaram,
os cientistas concentraram-se em várias partes do corpo e detetaram
dezessete anomalias congénitas nos treze indivíduos.
Pelo menos quatro tinham a mesma anomalia nas vértebras cervicais
e vários apresentavam anomalias no osso do pulso.

Uma abordagem foi feita com base na modelagem demográfica.
Os resultados sugerem que uma redução muito pequena na fertilidade
pode explicar o desaparecimento da população de Neandertal.
De acordo com esta pesquisa, esta diminuição não diz respeito a todos os neandertais femininos,
mas apenas aos mais jovens (menos de 20 anos).


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_de_Neandertal

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