MITOLOGIA - O Olimpo mediterrâneo - EUROPA


MEDITERRÂNEO - Mitologia Greco-Romana

As religiões da Grécia e da Roma antigas desapareceram, 
as chamadas divindades do Olimpo 
não têm mais um só homem que as cultue, entre os vivos, 
já não pertencem à teologia, mas à literatura e ao bom gosto.

Ainda persistem, e persistirão, 
pois estão demasiadamente vinculadas 
às mais notáveis produções da poesia e das belas artes, 
antigas e modernas, para caírem no esquecimento.

Propomo-nos a contar episódios relativos àquelas divindades, 
que nos chegaram dos antigos, e aos quais aludem, 
com freqüência, poetas, ensaístas e oradores modernos.

Desse modo, nossos leitores poderão, a um só tempo, 
distrair-se com as mais encantadoras ficções que a fantasia jamais criou, 
e adquirir conhecimentos indispensáveis a todo aquele que se quiser familiarizar 
com a boa literatura de sua própria época.

A fim de compreendermos aqueles episódios, 
cumpre-nos, em primeiro lugar, 
conhecer as idéias sobre a estrutura do universo, 
aceita pelos gregos, o povo de quem os romanos, 
e as demais nações receberam sua ciência e sua religião.

Os gregos acreditavam que a Terra fosse chata e redonda, 
e que seu país ocupava o centro da Terra, sendo seu ponto central, 
por sua vez, o Monte Olimpo, residência dos deuses, 
ou Delfos, tão famoso por seu oráculo.

O disco circular terrestre era atravessado de leste a oeste
e dividido em duas partes iguais pelo Mar, 
como os gregos chamavam o Mediterrâneo e sua continuação, 
o Ponto Euxino, os únicos mares que conheciam.

Em torno da Terra corria o rio Oceano, 
cujo curso era do sul para o norte na parte ocidental da Terra 
e em direção contrária do lado oriental. 
Seu curso firme e constante não era perturbado pelas mais violentas tempestades.

Era dele que o mar e todos os rios da Terra recebiam suas águas.
A parte setentrional da Terra 
era supostamente habitada por uma raça feliz, 
chamada hiperbóreos, 

que desfrutava uma primavera eterna e uma felicidade perene, 
por trás das gigantescas montanhas, 
cujas cavernas lançavam as cortantes lufadas do vento norte, 
que faziam tremer de frio os habitantes da Hélade (Grécia). 
Aquele país era inacessível por terra ou por mar. 
Sua gente vivia livre da velhice, do trabalho e da guerra.

Na parte meridional da Terra, 
junto ao curso do Oceano, 
morava um povo tão feliz e virtuoso como os hiperbóreos, chamado etíope.

Os deuses o favoreciam a tal ponto, que se dispunham, 
às vezes, a deixar os cimos do Olimpo, 
para compartilhar de seus sacrifícios e banquetes.

Na parte ocidental da Terra, banhada pelo Oceano, 
ficava um lugar abençoado, os Campos Elíseos, 
para onde os mortais favorecidos pelos deuses eram levados, 
sem provar a morte, a fim de gozar a imortalidade da bem-aventurança. 
Essa região feliz era também conhecida como 
os Campos Afortunados ou Ilha dos Abençoados.

Como se vê, os gregos dos tempos primitivos 
pouca coisa sabiam a respeito dos outros povos, 
a não ser os que habitavam as regiões situadas a leste e ao sul de seu próprio país, 
ou perto do litoral do Mediterrâneo.

Sua imaginação, enquanto isto, 
povoava a parte ocidental daquele mar de gigantes, monstros e feiticeiras, 
ao mesmo tempo em que colocava em torno do disco da Terra, 
que provavelmente consideravam como de extensão reduzida, 
nações que gozavam favores especiais dos deuses, 
que as beneficiavam com a aventura e a longevidade.

Supunha-se que a Aurora, o Sol e a Lua levantavam-se no Oceano, 
em sua parte oriental, e atravessavam o ar, 
oferecendo luz aos deuses e aos homens.

Também as estrelas, 
com exceção das que formavam as constelações das Ursas, 
e outras que lhes ficavam próximas, 
levantavam-se e deitavam-se no Oceano.

Ali, o deus-sol embarcava num barco alado, 
que o transportava em torno da parte setentrional da Terra, 
até o lugar onde se levantava, no nascente. 
A morada dos deuses era o cume do Monte Olimpo, na Tessália.

Uma porta de nuvem, 
da qual tomavam conta as deusas chamadas Estações, 
abria-se a fim de permitir a passagem dos imortais 
para a Terra e para dar-lhes entrada, em seu regresso.

Os deuses tinham moradas distintas; 
todos, porém, quando convocados, compareciam ao palácio de Júpiter, 
do mesmo modo que faziam as divindades 
cuja morada habitual ficava na Terra, nas águas, ou embaixo do mundo.

Era também no grande salão do palácio do rei do Olimpo 
que os deuses se regalavam, todos os dias, 
com ambrosia e néctar, seu alimento e bebida, 
sendo o néctar servido pela linda deusa Hebe.

Ali discutiam os assuntos relativos ao céu e à terra; 
enquanto saboreavam o néctar, 
Apolo, deus da música, 
deliciava-os com os sons de sua lira e as musas cantavam.

Quando o sol se punha, 
os deuses retiravam-se para as suas respectivas moradas, a fim de dormir.
As túnicas e outras peças dos vestuários das deusas 
eram tecidas por Minerva e pelas Graças, 
e todas as demais peças de natureza mais sólida eram formadas por diversos metais.

Vulcano era o arquiteto, 
o ferreiro, o armeiro, o construtor de carros 
e o artista de todas as obras do Olimpo.

Construía com bronze as moradas dos deuses; 
fazia os sapatos de ouro com que os imortais caminhavam sobre o ar ou sobre a água, 
ou se moviam de um lugar para o outro, 
com a velocidade do vento, ou mesmo do pensamento.

Também fazia com o bronze os cavalos celestiais, 
que arrastavam os carros dos deuses pelo ar, 
ou ao longo da superfície do mar. 

Tinha o poder de dar movimento próprio às suas obras, 
de sorte que os trípodes (carros e mesas) 
podiam mover-se sozinhos para entrar ou sair do palácio celestial.
Chegava a dotar de inteligência as servas de ouro 
que fazia para cuidar dele próprio. 

Júpiter ou Jove (Zeus), 
embora chamado pai dos deuses e dos homens, tivera um começo.
Seu pai foi Saturno (Cronos) e sua mãe Réia (Ops). 
Saturno e Réia pertenciam à raça dos Titãs, filhos da Terra e do Céu, que surgiram do Caos, 
sobre o qual falaremos com mais minúcia no próximo capítulo. 

Havia outra cosmogonia, ou versão sobre a criação, 
de acordo com a qual a Terra, 
o Êrebo e o Amor foram os primeiros seres.

O Amor (Eros) nasceu do ovo da Noite, que flutuava no Caos.
Com suas setas e sua tocha, atingia e animava todas as coisas, 
espalhando a vida e a alegria. 
Saturno e Réia não eram os únicos Titãs.
Havia outros, cujos nomes eram Oceano, Hipérion, Iapeto e Ofíon, do sexo masculino; 
e Têmis, Mnemósine, Eurgnome, do sexo feminino.

Eram os deuses primitivos, 
cujo domínio foi, depois, transferido para outros. 
Saturno cedeu lugar a Júpiter, Oceano e Netuno; Hipérion, a Apolo.
Hipérion era o pai do Sol, da Lua e da Aurora. 
É, portanto, o deus-sol original e apresentavam-no com o esplendor 
e a beleza mais tarde atribuídos a Apolo.

Os nomes entre parênteses são gregos, os outros, romanos ou latinos.
Ofíon e Eurínome governaram o Olimpo, 
até serem destronados por Saturno e Réia.

As representações de Saturno não são muito consistentes; 
de um lado, dizem que seu reino constituiu a idade de ouro da inocência e da pureza, 
e, por outro lado, ele é qualificado como um monstro, 
que devorava os próprios filhos, 

Júpiter contudo, escapou a esse destino e, quando cresceu, 
desposou Métis (Prudência) e esta ministrou um medicamento a Saturno, 
que o fez vomitar seus filhos. 
Júpiter, juntamente com seus irmãos e irmãs, 
rebelou-se, então, contra Saturno e seus irmãos, os Titãs, 
venceu-os e aprisionou alguns deles no Tártaro, impondo outras penalidades aos demais.

Atlas foi condenado a sustentar o céu em seus ombros. 
Depois do destronamento de Saturno, 
Júpiter dividiu os domínios paternos com seus irmãos Netuno (Poseidon) e Plutão (Dis).
Júpiter ficou com o céu, Netuno, com o oceano, 
e Plutão com o reino dos mortos.

A Terra e o Olimpo eram propriedades comuns.
Júpiter tornou-se rei dos e dos homens.
Sua arma era o raio e ele usava um escudo chamado Égide, feito por Vulcano.
Sua ave favorita era a águia, que carregava os raios. 
Juno (Hera) era a esposa de Júpiter e rainha dos deuses. 
íris, a deusa do arco-íris, era a servente e mensageira de Juno, o pavão, sua ave favorita.

Vulcano (Hefesto), o artista celestial, era filho de Júpiter e de Juno. 
Nascera coxo e sua mãe sentiu-se tão aborrecida ao vê-lo que o atirou para fora do céu.
Outra versão diz que Júpiter atirou-o para fora com um pontapé, 
devido à sua participação numa briga do rei do Olimpo com Juno. 
O defeito físico de Vulcano seria conseqüência dessa queda.

Sua queda durou um dia inteiro e o deus coxo acabou caindo na Ilha de Lenos 
que, desde então, lhe foi consagrada. 
Marte (Ares), deus da guerra, era também filho de Júpiter e de Juno. 
Febo (Apolo), deus da arte de atirar com o arco, da profecia e da música, 
era filho de Júpiter e de Latona, e irmão de Diana (Ártemis).
Era o deus do sol, como sua irmã Diana era a deusa da lua.

Vênus (Afrodite), deusa do amor e da beleza, era filha de Júpiter e Dione, 
mas outra versão a dá como saída da espuma do mar.
O Zéfiro a levou, sobre as ondas, até a Ilha de Chipre, 
onde foi recolhida e cuidada pelas Estações, 
que a levaram, depois, à assembléia dos deuses.
Todos ficaram encantados com sua beleza e desejaram-na para esposa. 

Júpiter deu-a a Vulcano, 
em gratidão pelo serviço que ele prestara, forjando os raios.
Desse modo, a mais bela das deusas 
tornou-se esposa do menos favorecido dos deuses.

Vênus possuía um cinto bordado, o Cestus, 
que tinha o poder de inspirar o amor. 
Suas aves preferidas eram os pombos e os cisnes, 
e a rosa e o mirto eram as plantas a ela dedicadas. 

Cupido (Eros), deus do amor, 
era filho de Vênus, e seu companheiro constante.
Armado com seu arco, desfechava as setas do desejo 
no coração dos deuses e dos homens.

Havia, também, uma divindade chamada Antero, 
apresentada, às vezes, como o vingador do amor desdenhado 
e, outras vezes, como o símbolo do afeto recíproco.

Contava-se a seu respeito, a seguinte lenda: 
Tendo Vênus queixado-se a Têmis de que seu filho Eros continuava sempre criança, 
foi-lhe explicado que isso se dava porque Cupido vivia solitário. 
Haveria de crescer, se tivesse um irmão.

Antero nasceu pouco depois e, logo em seguida, 
Eros começou a crescer e a tornar-se robusto. 
Minerva (Palas), a deusa da sabedoria, era filha de Júpiter, 
mas não tinha mãe, saíra da cabeça do rei dos deuses, 
completamente armada, a coruja era sua ave predileta 
e a planta a ela dedicada era a oliveira.

Mercúrio (Hermes), filho de Júpiter e de Maia, 
era o deus do comércio, da luta e de outros exercícios ginásticos e até mesmo da ladroeira; 
em suma, de tudo quanto requeresse destreza e habilidade.
Era o mensageiro de Júpiter e trazia asas no chapéu e nas sandálias.
Na mão, levava uma haste com duas serpentes, chamada caduceu. 

Atribuía-se a Mercúrio a invenção da lira. 
Certo dia, encontrando um casco de tartaruga, 
fez alguns orifícios nas extremidades opostas do mesmo, 
introduziu fios de linho através desses orifícios, e o instrumento estava completo.
As cordas eram nove, em honra das musas. 
Mercúrio ofereceu a lira a Apolo, recebendo dele, em troca, o caduceu.

Ceres (Deméter), filha de Saturno e de Réia, 
tinha uma filha chamada Prosérpina (Perséfone), 
que se tornou mulher de Plutão e rainha do reino dos mortos.
Ceres era a deusa da agricultura. 

Baco (Dioniso), deus do vinho, era filho de Júpiter e de Semeie.
Não representava apenas o poder embriagador do vinho, 
mas também suas influências benéficas e sociais, 
de maneira que era tido como o promotor da civilização, legislador e amante da paz.

As Musas, filhas de Júpiter e Mnemósine (Memória), 
eram as deusas do canto e da memória.
Em número de nove, tinham as musas a seu encargo, 
cada uma separadamente, um ramo especial da literatura, da ciência e das artes. 

Calíope era a musa da poesia épica, 
Clio, da história, 
Euterpe, da poesia lírica, 
Melpômene, da tragédia, 
Terpsícore, da dança e do canto, 
Erato, da poesia erótica, 
Polínia, da poesia sacra, 
Urânia, da astronomia e 
Talia, da comédia.

As Três Graças, Eufrosina, Aglaé e Talia, 
eram as deusas do banquete, da dança, 
de todas as diversões sociais e das belas-artes.
Em suma, tudo aquilo que, entre os homens, 
Se costuma chamar Civilidade.

Também as Parcas eram três: Cloto, Láquesis e Átropos. 
Sua ocupação consistia em tecer o fio do destino humano 
e, com suas tesouras, cortavam-no, quando muito bem entendiam.
Eram filhas de Têmis (a Lei), 
que Jove fez sentar em seu próprio trono, para aconselhá-lo. 

As Erínias, ou Fúrias, eram três deusas que puniam, com tormentos secretos, 
os crimes daqueles que escapavam ou zombavam da justiça pública.
Tinham as cabeças cobertas de serpentes e o aspecto terrível e amedrontador.
Conhecidas também como as Eumênides, 
chamavam-se, respectivamente, Alecto, Tisífone e Megera.

Nêmese era também uma deusa da vingança, 
que representava a justa ira dos imortais, 
em particular para com os orgulhosos e insolentes.

Pã, que tinha a Arcádia como morada favorita, 
era o deus dos rebanhos e dos pastores.
Os Sátiros eram divindades dos bosques e dos campos, 
imaginados como tendo cabelos cerdosos, pequenos chifres e pés de cabra. 
Momo era o deus da alegria e Pluto, o deus da riqueza.

DIVINDADES ROMANAS

As divindades mencionadas até agora são gregas, embora também aceitas pelos romanos.
Mencionemos, agora, as divindades peculiares a Roma. 
Saturno era um antigo deus italiano.
Tentou-se identificá-lo com o deus grego Cronos, 
imaginando-se que, depois de destronado por Júpiter, 
ele teria fugido para a Itália, onde reinou durante a chamada Idade de Ouro.

Em memória desse reinado benéfico, 
realizavam-se todos os anos, durante o inverno, as festividades denominadas saturnais.
Todos os negócios públicos eram, então, suspensos, 
as declarações de guerra e as execuções de criminosos adiadas, 
os amigos trocavam presentes e os escravos adquiriam liberdades momentâneas: 
era-lhes oferecida uma festa, na qual eles se sentavam à mesa, servidos por seus senhores.

Isso destinava-se a mostrar que, perante a natureza, 
todos os homens são iguais e que, no reinado de Saturno, 
os bens da terra eram comuns a todos.

Fauno, neto de Saturno, era cultuado como deus dos campos e dos pastores, 
e também como uma divindade profética.
No plural, seu nome era empregado para denominar divindades brincalhonas, 
os faunos, semelhantes aos sátiros dos gregos.

Quirino era deus da guerra que se confundia com Rômulo, 
o fundador de Roma, o qual, depois de morto, 
fora levado para ter um lugar entre os deuses. 
Belona era a deusa da guerra.

Terminus, o deus dos limites territoriais, 
sua imagem resumia-se numa simples pedra ou num poste, 
fincado no chão, para marcar os limites que separavam 
os campos de um proprietário do campo de seu vizinho.

Pales era a deusa que velava pelo gado e pelas pastagens, 
Pomona a que cuidava das árvores frutíferas e Flora, a deusa das flores.
Lucina presidia os nascimentos.
Há, também, uma deusa chamada Fauna ou Bona Dea. 

Vesta (a Héstia dos gregos) velava pelas lareiras.
Em seu templo, ardia constantemente um fogo sagrado, 
sob a guarda de seis sacerdotisas virgens, as Vestais.
Como se acreditava que a salvação da cidade dependia da conservação desse fogo, 
a negligência das vestais, caso o fogo se extinguisse, era punida com extrema severidade, 
e o fogo era aceso de novo, por meio dos raios do sol.

Liber era o nome latino de Baco; Mulcíber, o de Vulcano. Jano era o porteiro do céu. 
Era ele que abria o ano, e o seu primeiro mês até hoje o relembra.
Como divindade guardiã das portas, 
era geralmente apresentado com duas cabeças, 
pois todas as portas se voltam para dois lados. 

Seus templos em Roma eram numerosos.
Em tempo de guerra suas portas principais permaneciam abertas.
Em tempo de paz, eram fechadas. 
Só foram fechadas, porém, uma vez no reinado de Numa 
e outra no reinado de Augusto.

Os Penates eram os deuses que atendiam 
ao bem-estar e prosperidade das famílias. 
Seu nome vem de Penus, a despensa, que a eles era consagrada.
Cada chefe de família era o sacerdote dos Penates de sua casa. 

Os Lares eram também deuses da família, 
mas diferiam dos Penates porque eram espíritos deificados de mortais.
Os lares de uma família eram as almas dos antepassados, 
que velavam por seus descendentes.

As expressões lêmures e larva correspondiam mais ou menos à nossa expressão "fantasma".
Os romanos acreditavam que cada homem tinha seu Gênio e cada mulher, sua Juno, 
isto é, um espírito que lhes dera a vida e que era considerado como seu protetor, 
durante toda a vida.
No dia de seu aniversário, 
os homens faziam oferendas ao seu Gênio, as mulheres, à sua Juno.

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